O Povo Cigano

A origem do povo cigano não é conhecida com precisão, embora exista uma concordância de que a cultura desse povo seja vasta, cheia de mistérios e controvérsias a respeito. Talvez por se­rem um povo sem um idioma escrito, por mais que sejam feitas pesquisas sobre o assunto, muito pouco pode ser afirmado sobre sua cultura para garantir autenticidade.

Os ciganos, gitanos ou zíngaros como são conhecidos, segun­do estudiosos, poderiam ter nascido na índia devido à semelhança do seu idioma, o romanês, com o sânscrito, língua clássica indiana.

Viajantes e nómades por natureza trabalhavam geralmente em atividades que lhes permitiam o "ser itinerante", como as prá­ticas divinatórias, comerciantes, artistas de circo, ferreiros, etc. E viajando é que alguns clãs chegaram ao Egito, a algumas partes da Europa e depois ao resto do mundo.

A medida que foram se espalhando pelo mundo, dividi-ram-se em grupos que mantêm suas tradições até hoje.

■   Grupo calom - originário do Egito, passando pela índia e Marrocos, fixando-se principalmente na Espanha e Portu­gal, perseguidos e deportados para o Brasil, e seguidores fiéis das tradições ciganas.

■   Grupo ROM - originário da Hungria, Roménia, Turquia, Iu-goslávia, Rússia e Grécia. Rigorosos em preservar as tradi­ções e possuem grande conhecimento de magia. É o maior grupo do mundo e dividiu-se em pequenos grupos, como:

■   os kalderash - vindos da Roménia e Iugoslávia, guardiões da cultura cigana;

■   os matchuaia - vindos da Iugoslávia, praticam o nomadis­mo ainda hoje, mudando de cidades e hospedando-se em hotéis;

■   os louvara - vindos da Hungria, grandes feiticeiros, carto­mantes e domadores de cavalos.

Devido às leis preconceituosas contra os ciganos que foram promulgadas em Portugal, no período compreendido entre 1526 a 1708, esse povo foi deportado para Angola, depois expulso das colónias portuguesa, de Portugal e da Espanha.

Quando chegaram ao Brasil, eram proibidos de falar seu idioma. E como vieram como degredados, eram destinados a tra­balhar na forja fabricando ferraduras, ferramentas e apetrechos domésticos. Eram empregados como meirinhos da corte, que le­vavam noticiais e comunicados ao reino e às terras brasileiras, devido sua facilidade de andar pelo mundo.

Atualmente vivem pelo mundo em relativa paz, embora te­nham sofrido os mais diferentes tipos de discriminação e precon­ceito nos diversos países onde habitaram. Durante a Inquisição fo­ram condenados pelos tribunais. No país de Gales, misturaram-se com a população local e deram origem aos ciganos mistos, euro­peus com sangue cigano, os quais continuaram a sofrer discrimi­nação, mostrando que o preconceito continuava a existir contra esse povo.

Muitos ciganos, devido às experiências passadas, omitem suas origens, continuando a cultivá-las somente dentro do clã ao qual pertencem.

O gosto pelas viagens, a liberdade, o desejo de encontrar fortunas e novas terras fizeram com que o povo cigano adotas-se o nomadismo como modo de vida. E esse nomadismo gerou, em outras culturas, crenças onde se acreditava que ciganos eram ladrões de crianças, vendedores de ouro falso, feiticeiros. Ideias mentirosas, pois o povo cigano geralmente trabalha duro em prol e interesse do clã.

No momento atual, está acontecendo uma aproximação maior entre ciganos e não ciganos, o que proporciona maior co­nhecimento e esclarecimento sobre essa cultura tão rica.

Modo de vida

Desapego de bens materiais é uma das condutas do povo cigano. Possuem códigos e leis seguidas por todos os grupos ci­ganos do planeia.

O clã é a base do povo cigano. É comandado pelo chefe su­premo, o mais velho, obarõ, ou por um grupo de líderes, os kakus, sábios e feiticeiros que tomam as decisões importantes e melhores para o clã. Não existem opiniões femininas, apenas masculinas nestas ocasiões, tampouco nas reuniões da kris romani, tribunal que julga os mais diversos e diferentes assuntos.

Os ciganos levam em consideração a palavra dada, empe­nhada ou comprometida, e esta palavra ao ser respeitada é uma demonstração da riqueza de caráter da pessoa. Consideram as pessoas mais velhas por serem as mais sábias. Não se envolvem em discussões, brigas, confusões ou badernas, respeitando a li­berdade de cada pessoa.

As mulheres não cortam os cabelos, por acreditarem que es­tão cheios da energia mais pura e, ao serem cortados, perdem as forças, inclusive para assuntos de magia. Usam vestidos decota­dos, tem seios volumosos, para sustentar novos ciganos, e usam saias rodadas e longas. Casam-se muito cedo, e o casamento e a sexualidade tem a finalidade de gerar filhos.

Os casais não se separam. A esposa serve o marido e o di­nheiro ganho pela mulher é todo entregue ao marido. Nos clãs onde as famílias vivem juntas, o marido divide o dinheiro ganho pela família com o chefe do clã.

 

Nascimento:

Os  ciganos  gostam  de  crianças,  mas  a  preferência  é   dos meninos que dão o orgulho ao pai de dar continuidade ao nome da  família. Assim  que  a criança  nasce,  a  avó  ou  a  pessoa  mais  idosa  da  família prepara um pão, parecido a uma hóstia e um vinho para oferecer  ás três fadas do destino, que visitarão a criança no terceiro dia, para designar sua sorte.  Esse  pão  e  vinho  serão  repartidos  no  dia  seguinte  com  todas  as pessoas  presentes,  principalmente  com  as  crianças.  O  bebê  recebe  um patuá assinalado com uma cruz bordada ou desenhada contendo incenso, que  serve  para  afugentar  maus  espíritos.  O  batismo  pode  ser  feito  por qualquer  pessoa  do  grupo  e  consiste  em  dar  o  nome  e  benzer  a  criança com água, sal e um galho verde. A mulher é considerada impura durante os quarenta dias após o parto.

 

Casamento:

Geralmente os casamentos resultam de acordos feitos entre

os pais dos noivos que decidem unir suas famílias e prometem seus filhos desde  pequenos.  As  meninas  são  vendidas  aos  pais  dos  meninos  que compram uma esposa para o filho e costumam pagar em moedas de ouro o valor estipulado pelo pai da noiva. Quando os filhos atingem a maturidade celebra-se então a cerimônia de casamento. Quem dirige a cerimônia é o ancião da tribo. Ele recita orações quando corta delicadamente os pulsos dos noivos com uma lâmina. Depois os junta para consumar a "união de sangue".

 

Morte:

Os ciganos acreditam na vida após a morte e seguem todos os rituais para aliviar a dor de seus antepassados que partiram.

Costumam colocar no caixão da pessoa morta uma moeda para que ela possa pagar o canoeiro a travessia do grande rio que separa a vida da morte. Acreditam também que a pessoa continua rodeando e amparando  os que deixaram no mundo  dos  vivos.  E  se  uma  pessoa  morrer  com  ódio  no  coração  vagará sem  destino  pelo  universo.  Segundo  as  tradições  desse  povo,  a  mesma impureza  que  a  criança  traz  ao  nascer  e  desaparece  no  batismo,  é encontrada  na  pessoa  que  morre. 

Por  isso,  todos  os  pertences  do  morto devem ir junto com ele. Algumas tribos costumam queimar os pertences do falecido. O luto pela perda de um ser querido dura em geral muito tempo.

 A Pomána é um   banquete fúnebre celebrado a cada trinta dias da morte de uma pessoa até completar um ano. Na cerimônia oferecem  água, flores, frutas e suas comidas e bebidas prediletas em abundância  com a intenção de exprimir o desejo de paz e felicidade para o defunto. Acreditam que a alma da pessoa participa da cerimônia e gradativamente vai se libertando das  coisas  mundanas.  Os  ciganos  costumam  fazer  oferendas  aos  seus antepassados também nos túmulos.

 

A Musica:

A  música  mais  tocada  e  dançada  pelos  ciganos  é  a música  Kaldarash,  própria  para  dançar  com  acompanhamento  de  ritmo das  mãos  e  dos  pés  e  sons  sem  significados  emitidos  para  efeito  de acompanhamento.  No  entanto  entre  suas  viagens  pelo  mundo  a  música cigana  recebeu  influência  de  vários  povos,  mas  a  maior  influência  na música e na dança cigana dos últimos séculos é sem dúvida espanhola, refletida  no  ritmo  dos  ciganos  espanhóis  que  criaram  um  novo  estilo baseado no flamenco.

 

As Artes Divinatorias

Os ciganos acreditam que sua missão no mundo é praticar o dom da adivinhação com a finalidade de ajudar seus semelhantes.  Mas  são  as  ciganas  que  mais  exercem  esse  privilégio. 

Aos sete  anos,  elas  aprendem  a  ler  a  sorte  e  depois  de  mais  de  sete  anos seguidos, elas saem às ruas para atender as pessoas.

 As ciganas exercitam a vidência através de vários métodos e objetos como pedras, moedas, borra de café, copo d’água, bola de cristal, jogos de carta,

Tarô e  quiromancia.  Elas  transmitem  energia  pelo  olhar  e  recebem  a mensagem das pessoas pelo “olho místico”, que se encontra localizado no meio da testa e na palma da mão. Esse dom da adivinhação não é usado somente para prever o futuro, como também para detectar algum problema  de  saúde.  Para  manter  esse  dom,  a  mulher  cigana  não  deve nunca  cortas  os  cabelos  para  não  ter  a  sua  força  energética  diminuída.

Além disso os ciganos também possuem o costume de praticar magias. O tipo de magia mais utilizado por este povo e a Magia elemental, ou seja, utilizam-se das forças dos quatro elementos fundamentais da Natureza.


 Santa Sara e o Sagrado Feminino

AutoraTina Simão