A Criação

No princípio, o TUDO era NADA.
A única energia existente era nossa Deusa, que vagava pelo vazio, solitária em
sua sabedoria infinita. Corria pelo infinito do NADA, sem tempo, sem razão, até
encarar-se no espelho formado por sua vontade única de existência, um espelho que
refletia apenas essa existência, e apaixonar-se pelo que descobriu. No espelho, nossa
Senhora viu sua parcela masculina, existente mesmo antes do tempo ser tempo e do
TUDO ser criado, a parcela que já existia dentro de si mesma.

E Ela o amou!

Desse amor, gerado espontaneamente, o maior de todos os amores, o amor que
todos devemos ter por nossa essência divina, nasceu nosso Senhor, o Deus. Parcela
masculina do TUDO, necessária a toda a criação. O amor verdadeiro, chamado por
muitos de Ágape, nasceu entre ambos instantaneamente e desse amor o TUDO é criado.
Primeiro, da união física de nosso Senhor e de nossa Senhora, da junção de seus corpos
frenéticos explode o FOGO, primeiro dos elementos formadores da existência, o
verdadeiro FOGO da paixão. E com o FOGO surge a LUZ. E com a LUZ, o CALOR,
uma das características doadoras de toda a vida.

Assim como o Deus e a Deusa, masculino e feminino, a escuridão inicial e a luz
explosiva, dos fluidos que emanaram de seus corpos excitados pelo FOGO, nasce o
contraponto. Surge então o elemento ÁGUA. Pois na criação, tudo há de ter sua parcela
contrária. E a ÁGUA era o contrário do FOGO. ÁGUA, doadora de vida, necessária,
fluida, fresca.

Como o FOGO e a ÁGUA eram incompatíveis, mesmo em sua forma mais
etérea, dotados de propriedades contrárias, eram os antagônicos. Do suspiro dos
amantes, exalado no êxtase do descobrimento, nasce o AR. O AR, elemento mediador
entre o FOGO e a ÁGUA, possuindo características de ambos os elementos
antagônicos. O AR toma então seu espaço, separando sutilmente FOGO e ÁGUA,
ganhando do primeiro o calor e de sua contraparte, a umidade.

Os corpos de nossos criadores se estremeceram no ápice do amor e liberaram a
energia material que, misturando-se aos três elementos iniciais, formou o elemento
TERRA. Com a TERRA, tudo o que antes era etéreo, impalpável, inodoro, incolor,
toda a criação tornou-se sólida. A TERRA, por ter sido criada a partir de energia do
êxtase, em conjunto com os três elementos principais, tornou-se o quarto elemento. Suas
características eram o agregado de todos os elementos anteriores e mais, com sua
característica principal, que dotava o TUDO de peso e matéria.

Nosso Senhor e nossa Senhora assim unidos tornaram-se o quinto elemento, o
verdadeiro ESPÍRITO e, admirando-se de toda sua criação sonharam com o espaço, os
planetas, as estrelas, o UNIVERSO. Em meio ao sonho UNIVERSAL, encontrava-se
nosso Planeta, a TERRA. Graças às suas cores vibrantes, nossos Deuses voltaram sua
atenção para esse grão perdido no Universo e nele começaram a brincar. Num primeiro
momento, nossa Deusa se ocupava dos Céus e dos Mares, enquanto nosso Deus
preocupava-se com a terra, sua vegetação, seus animais.
O planeta tomava forma, mas ainda faltava-lhe o espírito. Para abrigar o espírito,
parte viva mais sutil de nossos Deuses, fomos criados. Os seres humanos, feitos à
imagem de nosso Deus e de nossa Deusa, pois se assim como é em “cima”, será “em
baixo”. Nasciam de forma perfeita os antagônicos complementares, o feminino e
masculino, contendo dentro de si, não em carne, mas em espírito, a energia dos Deuses,
energia essa também com sua parcela masculina e feminina indivisíveis.

E os Deuses sorriram diante de sua criação. Estavam exaustos pelo trabalho do
descobrimento e do amor por tudo que agora existia.
Então, os amantes divinos dotaram os seres humanos de uma fagulha de
inteligência e de seu livre arbítrio, seu direito à escolha própria. E assim como pais que
têm a certeza da criação de seus filhos, tranquilos se puseram a descansar.
Fechando seus olhos, abraçados em puro amor, nossos Deuses continuam a
descansar.

Adaptação do Mito da criação pela tradição O ’Reilly.

Esse mito tem início, mostrando-nos a criação por meio da Deusa. Mas é
importante perceber que, mesmo sendo a deidade feminina considerada a criadora,
também habitava dentro de si própria o princípio masculino, sendo o mesmo, sendo
parte da divindade completa. Eram antagônicos, porém, complementares.

Percebemos que no mito surgem as explicações para o aparecimento do
Universo a partir da criação dos elementos. Não é à toa que as diversas vertentes
religiosas acabam sendo análogas quanto a essa criação. O primeiro dos elementos
etéreos é o FOGO.
Podemos perceber igualdades na forma da criação do Universo mesmo nas
doutrinas hebraica e cristã:

 

Gênesis1

“ E disse Deus: Haja luz; e houve luz.”

A luz é obtida pelo Fogo. Existem diversas analogias ao Fogo como o primeiro
dos elementos, como é o caso das lendas das culturas orientais, africanas e mesmo
doutrinas Ocidentais, como a Bruxaria aqui destacada.
A teoria dos antagônicos é facilmente comprovada em física pela lei que diz:

“ As cargas opostas se atraem e as cargas iguais se repelem.”

A explicação científica se dá levando-se em conta que, para designar essas
atrações e repulsões, convencionou-se dizer que as partículas possuem algo chamado
carga elétrica, que produz campos de força. Os elétrons possuem carga elétrica negativa
e os prótons, positiva. As cargas opostas se atraem e as cargas iguais se repelem.

Vemos então que, se não tivéssemos o Ar, o elemento mediador, o Caos reinaria
e a destruição seria certa devido à repulsão dos dois primeiros elementos básicos da
criação. O Ar, na verdade, não seria mais um elemento da criação, mas um elemento
formado a partir das qualidades do Fogo e da Água, e por isso mesmo seria NEUTRO,
podendo transitar entre esses elementos antagônicos e mesmo mediá-los.

Das qualidades dos três primeiros, unidas, surge a Terra, e antes dela, nada
existia no plano físico. Para muitos ocultistas, a Terra seria o elemento
QUADRIPOLAR, justamente por combinar todos os elementos anteriores e mais, dotar
todos de uma identidade física.

Por último, como em todas as doutrinas que possuem uma ou mais divindades
principais, cria-se a figura humana como obra perfeita da imagem e semelhança desse
da deidade.

Na verdade, mitos e lendas servem-nos para uma compreensão mais simplista
dos conceitos imprescindíveis aos seres humanos.